Durante dez meses, semana após semana, embarcou-se numa viagem radiofónica seguindo as coordenadas dos novos territórios da música alternativa feita na Ásia. Sempre à procura da nova música num velho Mundo, em busca de um próximo Oriente. Foi esse o mote para as escolhas musicais que ainda perduram no éter cibernético (as 37 edições de “Próximo Oriente” podem ser escutadas aqui: www.mixcloud.com/proximo_oriente/ ou na página electrónica da Rádio Macau), e assim será na colaboração que agora começa com este jornal.
Frank Zappa disse uma vez que “falar sobre música é como
dançar sobre arquitectura”. Parece difícil, mas não será impossível. No
entanto, fazendo das palavras do lendário músico um sábio e avisado conselho,
serão evitados por aqui demasiados contorcionismos e malabarismos que desviem a
atenção do principal: a música.
Para chegar a esse bem essencial propõe-se uma incursão
panorâmica aos contextos em que se faz muita da mais excitante música dos
nossos dias, trazendo para grande plano os principais actores do que está a
acontecer neste nosso próximo Oriente.
Mesmo ao mais incauto dos distraídos não deve passar
despercebida a efervescência criativa que alastra em todo o Continente Asiático.
Na década que recentemente terminou, foi a armada chinesa de artistas plásticos
que impressionou o Mundo, tornando-se a face mais visível de novas gerações de
talentos de diferentes expressões. No caso da música, a revolução tem tido
menos impacto além fronteiras, mas nem por isso menos força.
Na República Popular, longe vão os dias em que Cui Jian
deixou o lugar de trompetista na Orquestra Sinfónica de Pequim para assumir a
paternidade do rock no Império do Meio.
Foi em 1989 que Cui lançou aquele que ficou para a história
como o primeiro disco de rock gravado na China: “新长征路上的摇滚” (“Rock 'N' Roll On The New Long
March”). Premonitório e auspicioso título. Como nas inúmeras estatísticas do
crescimento económico chinês (que entretanto deixaram de espantar), é sem
surpresa que vemos hoje que os últimos 20 anos foram um incessante desfiar do
imenso novelo do rock e afins, com a multiplicação de bandas e artistas, não só
em Pequim e Xangai, mas também nas restantes províncias.
Um fenómeno que talvez se explique por ter nascido tardio,
como se um gigante desperto de um sono milenar tentasse agora com avidez
recuperar o passo e o tempo perdidos.
Preservadas as devidas diferenças, há pontos de contacto
entre o que acontece actualmente na China e o que acontece noutros países
asiáticos que também vivem novas realidades sócio-económicas, como os casos das
Filipinas, Indonésia ou Malásia.
À margem desta explosão relativamente recente está o Japão.
No contexto regional, o País do Sol Nascente tem já uma longa história de
movimentos alternativos aos dominantes produtos massificados das indústrias
culturais.
No Japão, é proverbial a calorosa receptividade de que gozam
os produtos culturais estrangeiros, mas mais interessante é verificar como as
influências são apropriadas, como o “japanese touch” funciona seguindo o
princípio de que “nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.
São, portanto, dois os grandes paradigmas que nos guiam à
partida para uma viagem rumo ao Próximo Oriente: de um lado, a nova,
alternativa e independente China; do outro, o constantemente renovado Japão,
país de contrastes profundos, tradicional e moderno, ordeiro e rebelde. No
entanto, ambos mais, muito mais, do que se pode dizer numas quantas palavras.
Siga a música.
(Publicado no jornal Hoje Macau no dia 11 de Fevereiro de 2011)
(Publicado no jornal Hoje Macau no dia 11 de Fevereiro de 2011)
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