sábado, 8 de agosto de 2015

Em rede


Há duas semanas, falei aqui do projecto Metrowaves, dinamizado por Markus M. Schneider, alemão residente em Pequim, e Mumu Wang. Com origem na capital chinesa, Metrowaves centra a acção na promoção de novos formatos de encontro e diálogo entre produtores de música electrónica e a respectiva audiência.

Com o inestimável apoio do Goethe-Institut, Metrowaves organizou, entre 23 e 26 de Maio, a primeira edição da conferência “ME:CON - Metrowaves Electronic Music Convention”.
Pela primeira vez, vários agentes da China e do estrangeiro (responsáveis de editoras, promotores de eventos, gestores de clubes nocturnos e de outros recintos de espectáculos, músicos, DJ e membros dos media) debateram, em conjunto, o presente e o futuro do movimento da música electrónica na República Popular.

Não tendo podido participar neste evento, restou-me acompanhar a iniciativa à distância graças à Internet e graças à disponibilidade e generosidade de Markus M. Schneider. Foi ele que me deu conta de “quatro dias intensos de música, reflexões, conversas e intercâmbios”.

Já aqui destaquei que esta conferência surgiu num momento oportuno em que urge pensar os caminhos que a música electrónica vai tomando na China. Quem conhece Pequim (a capital a diversos níveis, incluindo as expressões artísticas urbanas e contemporâneas, nas quais se inscreve a música electrónica), sabe das transformações que vão acontecendo a todo o momento e em (quase) todos os lugares da imensa urbe.

Há uma vaga de expatriados (muitos já enraizados) dinâmicos e em perfeita sintonia com os residentes locais mais criativos. Há eventos e há espaços (discotecas, salas de concertos, bares, restaurantes), onde o bom gosto reina e a atmosfera faz esquecer que Pequim é a capital de um regime comunista e algo fechado. Na verdade, a cidade pulsa e tem sede.

A conferência “ME:CON”, como não podia deixar de ser, enquadrou-se neste espírito.
Diz Markus que “a reacção [dos participantes e da audiência] foi imediata e positiva”, tendo-se tornado “óbvio”, desde o primeiro momento, que uma segunda edição realizar-se-á no próximo ano. “Tanto a conferência como os contactos pessoais demonstraram que existe a necessidade para um formato destes, e mostraram também que há um grande potencial para o desenvolvimento futuro e para que se torne na plataforma da cena musical de Pequim”.

Ainda em tempo de balanços, Markus prevê que uma segunda edição da conferência aproveite as ideias entretanto afloradas na primeira edição, e que uma maior audiência possa contribuir para “um novo capítulo da cultura de música urbana da cidade”.

A escolha dos locais por onde “ME:CON” foi passando nesta sua primeira vida espelham a “movida” da Pequim actual.

Sempre em “tom aberto e informal”, como se impõe, a conferência abriu num sítio chamado “The Other Place”, “um pátio recente, localizado no cruzamento entre Beiluoguxiang com Langjia Hutong”; ou seja, “o sítio ideal para uma noite relaxada de conversa, comida e bebida.” Seguiram-se outros locais “trendy”, da moda, incluindo paragens no recentemente aberto XP (sucessor da lendária sala de concertos D-22), na “Tangsuan Radio”, a estação de rádio onde a música electrónica domina, entre outros.

O programa da conferência estava dividido em quatro grandes secções: história recente e contexto actual da música electrónica em Pequim, com Josh Feola (Pangbianr/XP, Pequim), Michael Vonplon (SwissKiss/MiroChina, Zurique) e Zhang Youdai (Pequim), dois dos pioneiros da música electrónica chinesa; outra secção aberta às contribuições regionais (Xangai, Chengdu e Taipé); uma secção focada nos convidados estrangeiros; e, finalmente, uma secção dedicada à produção e actividade editorial, bem como aos processos e modelos de distribuição da música, com o músico/produtor/curador de Colónia Till Rohmann (Glitterbug) e Detlef Diedrichsen, da editora C.Sides e director do festival Worldtronics, que se realiza em Berlim.

Além da partilha de experiências, era vontade da organização criar, também, o ambiente propício para encetar colaborações que dêem sentido a uma rede internacional ligando a China ao resto do mundo.

Nesse sentido, um fruto que já pode ser colhido desta primeira conferência é a participação da organização Metrowaves na edição deste ano do festival Worldtronics, com a responsabilidade de programar um dia dedicado à música electrónica “made in China”. Espero dar muitas mais notícias deste tipo nos tempos vindouros. Há um próximo Oriente.

Publicado no jornal Hoje Macau no dia 8 de Junho de 2012 

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