Wilson Tsang é de Hong Kong, Bernardo Devlin é
de Portugal. Até terem sido convidados para colaborarem num tema do primeiro
volume da compilação “T(h)ree”, que juntou músicos de Portugal, Macau e Hong
Kong, nenhum tinha ouvido falar do outro. Amanhã, aqui em Macau, na praça que
conhecemos como a “praça do Sintra”, num pré-evento do festival literário “Rota
das Letras”, os dois sobem ao palco para interpretar, além originais dos
respectivos discos, também o belíssimo “Sea of Amnesia” que resultou do
trabalho que fizeram juntos.
Apesar de serem de lados opostos do mesmo
mundo, e ainda que movendo-se em sonoridades distintas, Wilson e Bernardo estão
em sintonia sobre diversas coisas, incluindo a importância do intercâmbio que
projectos como o “T(h)ree” promovem.
Da participação no disco que juntou, ainda, os
portugueses A Naifa com Winnie Lau, de Hong Kong, ou o português Kubik com os
Evade, de Macau, entre outros pares improváveis, Wilson Tsang diz que foi “uma
oportunidade preciosa, bem como uma plataforma aberta que me permitiu estudar e
explorar as possibilidades da música de vários géneros e diferentes contextos
culturais. Foi também um desafio trabalhar com alguém que não conhecia e que,
de certa forma, me fez sentir mais ligado à cultura portuguesa, apesar de já
ter viajado muitas vezes até Macau”.
Noutra troca de “e-mails”, Bernardo Devlin
corrobora: “Parece-me ser do maior relevo que num mundo globalizado, muitas
vezes com intuitos comerciais e corporativos, as portas globais também se abram
para um conhecimento mais profundo entre as pessoas, e o campo artístico é um
bom veículo a esse nível”.
A Macau, Devlin traz na bagagem o álbum “Sic
Transit”, editado no ano passado, mas promete, na sua actuação a solo,
“apresentar músicas que foram feitas a pensar no meu próximo álbum, ‘Chroma
Key’”, mesmo que ainda não tenha decidido “se irão constar de facto, ou não”,
do disco.
A música de Bernardo Devlin assenta na sua voz
cavernosa que faz lembrar Peter Murphy e uma série de outros românticos de
outros tempos. Entre o canto e a declamação, a intimidade e a pose, temos
drama, negrume, mas em diferentes tonalidades que não descuram, por vezes, um
ar displicente ou levemente humorístico.
Wilson Tsang é um artista que privilegia a
experimentação. Na sua música, as diferentes linguagens são todas meios para um
mesmo fim. Do piano à electrónica, do rock ao jazz, o músico de Hong Kong parte
para criar ambientes que podem ser descritos como sugestivos de filmes que
estão por realizar.
No concerto de Macau, Wilson vai apresentar
temas com os novos membros da sua banda, e apostar na improvisação.
Do encontro que acontecer, tanto Wilson Tsang
como BErnardo Devlin esperam que possa vir a servir de pretexto para novas
colaborações. “Certamente que espero trabalhar com o Bernardo outra vez”,
confessa Wilson, que vê na música do português “muitos elementos que me
inspiram, como o negrume e o mistério, e a teatralidade com que aborda a
música. Espero que possamos estabelecer uma linguagem comum e que a partir daí
possamos explorar e desenvolver algo juntos ao longo dos próximos dias”.
Bernardo Devlin é mais sintético, mas nem por
isso menos expressivo: “Estou certo que isso vai ser abordado nestes próximos
dias. Da minha parte, com o maior prazer.”
Adivinham-se capítulos a não perder. O
próximo, é amanhã.
Wilson
Tsang & Bernardo Devlin
“T(h)ree”
Praça da
Amizade (Praça do Hotel Sintra)
Pré-evento
do festival literário “Rota das Letras”
19 Horas
Publicado no jornal Hoje Macau no dia 8 de Março de 2013
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