sábado, 8 de agosto de 2015

Encontro em Macau


Wilson Tsang é de Hong Kong, Bernardo Devlin é de Portugal. Até terem sido convidados para colaborarem num tema do primeiro volume da compilação “T(h)ree”, que juntou músicos de Portugal, Macau e Hong Kong, nenhum tinha ouvido falar do outro. Amanhã, aqui em Macau, na praça que conhecemos como a “praça do Sintra”, num pré-evento do festival literário “Rota das Letras”, os dois sobem ao palco para interpretar, além originais dos respectivos discos, também o belíssimo “Sea of Amnesia” que resultou do trabalho que fizeram juntos.

Apesar de serem de lados opostos do mesmo mundo, e ainda que movendo-se em sonoridades distintas, Wilson e Bernardo estão em sintonia sobre diversas coisas, incluindo a importância do intercâmbio que projectos como o “T(h)ree” promovem.

Da participação no disco que juntou, ainda, os portugueses A Naifa com Winnie Lau, de Hong Kong, ou o português Kubik com os Evade, de Macau, entre outros pares improváveis, Wilson Tsang diz que foi “uma oportunidade preciosa, bem como uma plataforma aberta que me permitiu estudar e explorar as possibilidades da música de vários géneros e diferentes contextos culturais. Foi também um desafio trabalhar com alguém que não conhecia e que, de certa forma, me fez sentir mais ligado à cultura portuguesa, apesar de já ter viajado muitas vezes até Macau”.

Noutra troca de “e-mails”, Bernardo Devlin corrobora: “Parece-me ser do maior relevo que num mundo globalizado, muitas vezes com intuitos comerciais e corporativos, as portas globais também se abram para um conhecimento mais profundo entre as pessoas, e o campo artístico é um bom veículo a esse nível”.

A Macau, Devlin traz na bagagem o álbum “Sic Transit”, editado no ano passado, mas promete, na sua actuação a solo, “apresentar músicas que foram feitas a pensar no meu próximo álbum, ‘Chroma Key’”, mesmo que ainda não tenha decidido “se irão constar de facto, ou não”, do disco.

A música de Bernardo Devlin assenta na sua voz cavernosa que faz lembrar Peter Murphy e uma série de outros românticos de outros tempos. Entre o canto e a declamação, a intimidade e a pose, temos drama, negrume, mas em diferentes tonalidades que não descuram, por vezes, um ar displicente ou levemente humorístico.

Wilson Tsang é um artista que privilegia a experimentação. Na sua música, as diferentes linguagens são todas meios para um mesmo fim. Do piano à electrónica, do rock ao jazz, o músico de Hong Kong parte para criar ambientes que podem ser descritos como sugestivos de filmes que estão por realizar.

No concerto de Macau, Wilson vai apresentar temas com os novos membros da sua banda, e apostar na improvisação.

Do encontro que acontecer, tanto Wilson Tsang como BErnardo Devlin esperam que possa vir a servir de pretexto para novas colaborações. “Certamente que espero trabalhar com o Bernardo outra vez”, confessa Wilson, que vê na música do português “muitos elementos que me inspiram, como o negrume e o mistério, e a teatralidade com que aborda a música. Espero que possamos estabelecer uma linguagem comum e que a partir daí possamos explorar e desenvolver algo juntos ao longo dos próximos dias”.

Bernardo Devlin é mais sintético, mas nem por isso menos expressivo: “Estou certo que isso vai ser abordado nestes próximos dias. Da minha parte, com o maior prazer.”

Adivinham-se capítulos a não perder. O próximo, é amanhã.

Wilson Tsang & Bernardo Devlin
“T(h)ree”
Praça da Amizade (Praça do Hotel Sintra)
Pré-evento do festival literário “Rota das Letras”
19 Horas

Publicado no jornal Hoje Macau no dia 8 de Março de 2013

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