sábado, 8 de agosto de 2015

Não esquecer os Forget the G


Regresso a uma noite de Janeiro deste ano, quando a Live Music Association abriu as portas ao “noise” e à música experimental do polaco Zbigniew Krakowski, Sin:Ned, de Hong Kong, e e:ch, de Macau.

e:ch é o nome que Eric Chan utiliza quando encarna a pele de intrépido explorador sónico, o papel que desempenhou nessa noite. De figura esguia, sentado no chão da sala de concertos com a guitarra eléctrica aninhada no colo e os braços estendidos sobre os pedais e o amplificador, Eric arrancou do instrumento e das maquinarias trinta minutos de pura distorção, umas vezes transformada em estática ruidosa, mas apaziguada, outras em descargas maciças de electricidade que evocavam com estrondo uma qualquer natureza do caos.

Desordem e confusão, enquanto elementos de ignição da criatividade, são ideias que se pressentem na música dos Forget the G, mas o trio - liderado por Eric Chan -,
privilegia uma disposição arrumada e progressiva dos sons.

Fazendo parte do universo do chamado “rock alternativo”, os Forget the G convocam influências díspares que vão dos Radiohead a Ravel, passando pelos Einstruzende Neubauten ou Explosions in the Sky, para fazer uma música que, nas palavras da banda de Macau, tem uma dimensão marcada por três conceitos: subtileza, dinâmica e contradição.

No mais recente disco, de 2012, “I See You Watching Me While I’m Watching You” (segundo volume de uma trilogia ainda em aberto iniciada com “Prologue”, em 2010), os Forget the G aprofundam os conceitos-chave em canções que chegam aos 11 minutos, remetendo os ouvintes para grandes espaços onde a vista se alarga, mas também se revira para o seu interior.

A música desenvolve-se em lentas progressões, num tom arrastado que introduz transições no tempo certo. Hipnótico, o som tanto explode como implode. As frases minimais de piano são constantes; as guitarras são melodiosas e ambientais, mas amiúde optam pela estridência e pela expansividade. O “feedback” acentua a tensão, os “riffs” parecem decompor-se num estrépito electrónico. A voz de Eric Chan é expressiva, ondulante e intimista. “Et voilà”.

Os Forget the G nasceram em 2005, na Austrália, e tiveram direito a um segundo parto em 2007, em Macau. Fazem parte da banda Eric Chan (voz e guitarra), Frog (piano) e Fi (bateria).

Até à data, contam com dois discos (“Prologue”, de 2010 e “I See You Watching Me While I’m Watching You”, de 2012), e outras tantas aparições em colectâneas (“Listen To The People”, de 2010, e “Black Market Music Compilation”, de 2012).

À semelhança do que acontece com outra das “wonder bands” de Macau, os Evade, também os Forget the G têm rodado com alguma intensidade pelos palcos da região (Hong Kong, China, Taiwan), onde têm colhido elogios que soam mais do que bem.


Em Macau, o discurso repete-se: “Gostava de ver mais pessoas interessadas em apreciar a música de diferentes bandas do que apenas miúdos que tentam parecer ‘cool’ nos concertos, enquanto dão uns saltos durante as actuações, ou passam o concerto a filmar com o seu iPhone. Acho que esta realidade explica porque é que algumas bandas procuram tocar o máximo possível fora de Macau.” É Eric Chan, em discurso directo. Apesar de algum desencanto, que não se acuse Eric, todavia, de resignação: além da actividade a solo enquanto e:ch e do trabalho com os Forget the G, Eric Chan é responsável pela editora que criou em 2010, Day’s Eye Records. É com este selo que edita os discos dos Forget the G, em Macau e em Hong Kong, funcionando ainda a editora como plataforma para a promoção de concertos de outras bandas. O primeiro espectáculo aconteceu no passado dia 13 de Janeiro, numa noite dedicada ao “noise”, na Live Music Association, e poucos dias depois realizou-se o segundo, com Islaja, da Finlândia. Eric promete mais para breve. Até porque, diz, “continuamos a ter esperança de mudanças para melhor”.

Publicado no jornal Hoje Macau no dia 1 de Março de 2013

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