“Why the Global Music
Industry Needs China”. É este o título da conferência
marcada para hoje, dia 16 de Março, em Austin, no Texas, Estados Unidos, no
âmbito do festival South by Southwest (SXSW).
O título, sem ponto de interrogação no final,
sugere que os oradores convidados vão explicar a necessidade que a moribunda
indústria musical tem de conquistar os meandros do mercado chinês para
conseguir sobreviver, uma evidência que se vai tornando cada vez mais gritante
à medida que a China vai consolidando o estatuto de potência global.
No entanto, talvez seja mais oportuno e talvez
faça mais sentido inverter os termos da proposta e explicar (ou perguntar): por
que precisa a China da indústria musical global? Afinal, deve ser a resposta a
esta questão que ocupa as mentes dos músicos das bandas chinesas convidadas
para a edição deste ano do colossal festival que começou no dia 9 de Março e
termina no próximo dia 18, apresentando um total de duas mil bandas (sim, leu
bem: 2000), espalhadas por 90 palcos dispostos um pouco por toda a cidade, além
de inúmeros eventos paralelos, que vão desde mostras de cinema a conferências.
Este ano, a presença chinesa no festival
atinge o número recorde de sete bandas: Snapline, Carsick Cars (é a terceira vez
que participam no SXSW), Re-TROS, Duck Fight Goose, Rustic, Deadly Cradle Death
e Nova Heart. Nunca tantas bandas chinesas estiveram juntas fora da República
Popular como acontece no South by Southwest de 2012.
São indicadores de que a música chinesa alternativa
e independente vai ocupando o seu lugar na competitiva (e complicada) indústria
musical global, mas estamos ainda longe de poder afirmar que o espaço tomado
actualmente pela “indiechina” granjeou reconhecimento e popularidade
suficientes para que as bandas chinesas sejam já parentes com direito a
presença assídua em todas as reuniões de família.
Passou o tempo em que as bandas chinesas
usufruíam do “efeito novidade”; já ninguém (ou quase ninguém), em lado algum,
se admira com a simples existência de bandas de Rock chinesas. Por outro lado,
não se pode dizer que exista familiaridade bastante ao ponto de um qualquer
leitor da revista portuguesa “Blitz”, por exemplo, ter na ponta da língua o
nome de três bandas chinesas da actualidade.
Para a música independente e alternativa
chinesa, portanto, representada no SXSW pelas “magnificent seven”, no actual
momento, o que está em causa consiste na definição e estabelecimento de uma
identidade forte e original e, sobretudo, na afirmação do factor que, no final,
será o único a valer: a qualidade.
A partir de agora, desde o momento em que o
tal “efeito novidade” se esfumou, será o valor da música a servir para chamar a
atenção do mundo para o que se passa na imensa “indiechina”.
Todavia, para que isso aconteça, há muitas
questões, digamos, mais prosaicas, a resolver, e que se prendem, sobretudo, com
a distribuição e acesso ao que diariamente se produz na China, e também com uma
(ainda) maior exposição desta música (depois de reportagens no New York Times
ou Wall Street Journal, o novo rock chinês chegou à revista de bordo da United
Airlines e da Continental Airlines, a Hemispheres Magazine!). É verdade que uma
coisa traz a outra e vice-versa, e que será fácil enredarmo-nos como a
“pescadinha de rabo na boca”. Ainda assim, deve intrigar-nos o facto de a
música alternativa chinesa não ser “novidade” e, ao mesmo tempo, pese embora a
“boa imprensa” de que vai gozando, ter tão pouca aceitação e reconhecimento
junto de um público mais vasto e além fronteiras.
Comecemos pelo Texas, então.
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