A globalização deve ser isto: Vinh Ngan nasceu
em Inglaterra com ascendência chinesa e vietnamita, vive em Londres, onde faz
hip-hop inspirado em Hong Kong (cidade onde nunca esteve), canta em cantonense
e em breve lançará um disco com o selo de uma editora norte-americana.
São os (poucos) dados que existem sobre o
homem que no mundo da música assina como Triad God, o projecto que divide com o
produtor Benjy Keating, e que recentemente despertou curiosidade na Internet,
tendo atraído a atenção de gente bem relacionada nos meandros sempre
insondáveis das vanguardas mais marginais.
Tudo começou com uma “mixtape” de distribuição
gratuita intitulada “NXB” (“New Cross Boys”, uma referência ao bairro do
sudeste de Londres onde Vinh cresceu e do qual se diz ter sido o berço do
movimento “rave”). São cerca de 25 minutos de música nocturna e urbana,
cinemática, carregada de “synths” que acentuam ambientes gélidos – faz sentido,
assim, falar em “chill wave” –, reminiscências dos anos 1980, ritmos que
oscilam velocidades, ocasionais instrumentos chineses e, claro, a voz e as
palavras de Vinh, o seu “rap” cantonense, quase inexpressivo (em regime
“deadpan”). Depois do “gangsta rap”, o “triad rap”.
Num ficheiro que acompanha a edição de “NXB”
para “download”, dá-se a entender de forma telegráfica que o disco resulta de
um somatório de experiências, pessoas e lugares: “South London New Cross,
Peckham, China Town / Bar / Club / Casino / Temple/ 2pac & Edison Chen.” E
mais Vinh não diz, deixando o culto adensar-se à sua volta num rumor de
mistério.
Vale o parceiro, Palmistry, que, em entrevista
ao “site” The Fader, explicou o contexto em que surgiu esta música que, pelas
referências que convoca e pelo imaginário que orienta é, mesmo no hiper-activo
e sobrepovoado universo musical do nosso tempo, pouco comum.
Reza então a história que, em 2007, depois de
um problema com o vício do jogo, Benjy Keating chegou a Londres disposto a
aprender e a enveredar por uma actividade na produção musical. Anos mais tarde,
em 2011, quando voltou a frequentar casinos na Chinatown londrina à procura de
um local para filmar um vídeo musical, Benjy conhece Vinh, que alimentava o
sonho de vir a tornar-se um “rapper”. Ambos descobrem, logo, afinidades (Wong
Kar-wai, Andy Lau, Hong Kong) e complementaridades (um queria ser “rapper”, o
outro produtor). Imediatamente, começam a trabalhar em conjunto.
Da colaboração, o primeiro resultado,
conhecido ainda em 2011, foi o EP “Aym G 4 Life” (“my boys for life”), um
trabalho entretanto desaparecido dos arquivos cibernéticos e praticamente
impossível de encontrar “online”. É desse disco o tema (“Remand”) que está
agora a ser utilizado pela editora norte-americana Hippos in Tanks
(recomendável casa de James Ferraro – que, alegadamente, terá levado para lá
Triad God –, Autre Ne Veut, Hype Williams, d’Eon ou Nguzunguzu) para promover a
reedição de “NBX”, com lançamento público marcado para o dia 13 de Novembro.
Para o próximo ano, entretanto, está agendado um novo disco.
Abraçando a lógica (do tipo “psicologia
invertida) que dita os acontecimentos nas margens das “independanças”, qual
máfia protegida pela “omertà”, o “hype” viverá à custa de uma dieta rigorosa de
informação e o silêncio será a palavra de ordem. Alas abertas para Vinh Ngan –
já era tempo de o cantonense ser “cool”.
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