Quando surgiu, no início da década de 1990, a
expressão “IDM” (Intelligent dance music) procurava distinguir o tipo de música
electrónica que não se limitava à justificação funcional das pistas de dança e
que se desviava por caminhos mais dados à experimentação, o que resultava
(muitas vezes) em arritmias que não se harmonizavam com pés que queriam bater a
noite toda sem parar.
Amaldiçoada tanto pelos artistas que descrevia
como pelos que excluía (deixados a pensar que faziam “stupid dance music”), a
denominação “IDM” sobreviveu para apresentar música que continua a perder-se no
labirinto da electrónica e que depois se encontra aninhada nos circuitos
cerebrais dos ouvintes.
Desde que, em 1992, a Warp Records lançou a
compilação “Artificial Intelligence”, anunciando ao mundo os artistas que
viriam a ser considerados os mestres da IDM (Autechre, Aphex Twin, B12, The
Black Dog e The Orb), foram imensas as ramificações que a música electrónica
gerou, e o caminho que então começou a ser desbravado continua sem fim à vista.
Com o tempo, naturalmente, esbateu-se a
distinção entre a IDM e o resto da electrónica, o que resultou, entre outras
coisas, numa música de dança menos convencional, ainda que igualmente
funcional.
Actualmente, entre os géneros que não se
conformam ao padrão rítmico mais comum da música electrónica, “four-to-the-floor”,
o mais popular é talvez o Dubstep.
Com origem em Londres, descendente bastardo do
Dub, Grime, 2-Step, UK Garage e do Drum and Bass, o Dubstep consiste, em traços
gerais, no diálogo de linhas de baixo ultra saturadas que estremecem o espaço
entre percussões narcóticas, quebradas e irregulares, com tímidos esquissos de
melodias e poucas ou nenhumas vocalizações. É este o som que se ouve, como
fundo, em “The Other Side”, o disco de estreia de Achun, produtor de Macau.
Editado este ano pela Pause Music, editora da
Xangai, “On the Other Side” convoca o Dubstep como influência notória, mas
usa-o como tapete sobre o qual se estendem outras sonoridades, do 8-Bit
(“Chiptune”, remanescente dos primórdios da cultura de videojogos) ao
Breakbeat, passando pelo Electro. Aliado à música, surge um imaginário que
Achun reclama dos filmes de ficção científica e de teorias da conspiração, que
terão dado o mote para o tema de abertura do disco, “Hidden Fear”, que
entrecruza Electro e Dubstep num clima de tensão que só a espaços, ao longo do
disco, desaparece.
De produção consistente e bem artilhada, “On
the Other Side” tem como momentos altos “Stargate” (devidamente espacial,
trazendo ao disco uma profundidade de som que falta a outros temas, ajudando a
projectar a música para outra dimensão) e “Scenario”, o tema de maior
fidelidade à raiz mais profunda do Dubstep, o Dub.
Apesar de só este ano se ter aventurado na
edição, Achun tem actividade como produtor desde 2003. O tempo que esperou até
lançar “On the Other Side”, entre outras coisas, revela que, como o próprio
Achun confessa, “não é fácil ser produtor de música em Macau”, nem tão pouco
ser um mero apreciador de música electrónica.
Depois de concertos na China e em Hong Kong,
no próximo dia 28 de Julho, Achun apresenta “On the Other Side” em Macau, no
Armazém do Boi. Além de ser uma oportunidade para ouvir, em avanço, alguns dos
temas do próximo EP, com edição agendada para o final de 2012, o concerto
servirá, também, para tomar o pulso ao movimento local em torno do Dubstep e da
música electrónica, que chegou a ter expressão quando o bar Blue Frog abria as
portas a noites temáticas. E agora?
“On the Other Side”
Achun
Pause Music,
2012
Publicado no jornal Hoje Macau no dia 22 de Junho de 2012
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