Uma breve mensagem e duas fotografias. Foi
desta forma que os chineses P.K. 14 anunciaram, esta semana, no “site” Douban,
que está finalizada a gravação do quinto álbum da banda, quatro anos depois de
“City Weather Sailing”.
De acordo com o anúncio, no novo disco, ainda
sem título e com lançamento esperado para o início do próximo ano, os P.K. 14
voltaram a trabalhar com o produtor sueco Henrik Oja (Sonic Youth, David Bowie,
Patti Smith, Yo La Tengo, The Strokes, etc.). Também à semelhança com o que
aconteceu no anterior trabalho, gravado em Nova Iorque, a banda chinesa rumou,
uma vez mais, até aos Estados Unidos, desta feita até Chicago.
Na “Windy City”, os P.K. 14 terão passado a
maior parte do tempo no Electrical Audio, o famoso estúdio de Steve Albini,
músico e engenheiro de gravação que é apresentado invariavelmente como
“lendário” devido à influência com que moldou o som de bandas como Nirvana ou
Pixies, entre outras de uma extensa lista que, curiosamente (ou não),
confunde-se amiúde com o rol de influências reclamadas pela banda chinesa.
Nos vários textos escritos a propósito dos
P.K. 14 ao longo dos últimos anos, saltam imediatamente à vista os nomes –
normalmente são introduzidos em jeito de início de conversa – convocados para
explicar o universo e situar as referências da música dos chineses. Atravessam
diferentes géneros e épocas, sendo que cada escriba tem uma versão inteiramente
diferente do que se supõe ter influenciado os autores de “City Weather
Sailing”. Assim se explica que surjam nomes como Gang of Four, Bauhaus, Joy
Division, The Stooges, The Smiths, Meat Puppets, Talking Heads, Television, New
York Dolls, The Fall ou Fugazi. O conjunto destes nomes não engana: pelo menos
em espírito, os P.K. 14 situam-se no período “pós-punk”, a genérica designação
que serviu de base para outra ainda mais vaga: rock alternativo.
Na China, os P.K. 14 desfrutam do estatuto de
“instituição indie”. Nascidos em Nanjing, em 1997 (ano em que puseram cá fora
as primeiras músicas), os P.K. 14 (“Public Kingdom for Teens”, mas também são
conhecidas outras versões das iniciais do nome da banda, tais como “Pent
Kilowatt One More Than Thirteen”, “Pelikan Kraut Seven Times Two” ou “Psycho
Killer Two Less Than Sixteen”) cedo se afirmaram pela música e pelas palavras
do vocalista/letrista Yang Haisong, frequentemente descrito como “carismático”
e que diz procurar inspiração em autores como Woody Guthrie, Bob Dylan ou Phil
Ochs, entre outros da chamada música de protesto”.
Em 1999, quando os rockers suecos The
(International) Noise Conspiracy passaram pela China em digressão, os P.K. 14
foram escolhidos para fazer a primeira parte do concerto de Xangai. Pouco tempo
depois, em 2001, aventuraram-se no lançamento do primeiro álbum oficial de
originais, “Shang Lou Jiu Wang Zuo Guai” (“Upstairs, Turn Left”), pela editora
Sub Jam. O ano de 200 foi de mudanças para os P.K. 14: depois da estreia
editorial, trocam Nanjing por Pequim. Na capital, facilmente conquistam um
espaço próprio na constelação das estrelas alternativas do universo musical
chinês, na altura a caminho de ser densamente populado.
Os tempos seguintes foram intensos e
prolíficos. Em Pequim, os P.K. 14 assinam, em 2002, pela editora Modern Sky,
através da qual publicariam, em 2004, o segundo álbum, “Shei Shei Shei he Shei
Shei Shei”. No ano seguinte, mais um disco – “White Paper” –, também na Modern
Sky. Já com a mudança de editora acertada para a Maybe Mars, os P.K. 14 lançam,
em 2008, “City Weather Sailing” (“Chengshi Tianqi De Hangxing”).
O quarto disco trouxe aos chineses atenção e
reconhecimento internacionais em doses que, até então, ainda não haviam
experimentado – um possível epítome pode ser o facto de a revista
norte-americana Time ter considerado os P.K. 14 como uma das cinco bandas
asiáticas “a seguir” em 2008.
O ano seguinte trouxe a primeira digressão
pelos Estados Unidos, onde lotaram salas em cidades como Nova Iorque e
Washington DC. Em casa, a MTV China promovia-os como a “banda do mês de
Setembro”. Em 2010, regressam a solo norte-americano para um novo périplo que
passou pelo festival South by Soutwest (onde estiveram, uma vez mais, na edição
deste ano). No outro lado do mundo, os P.K. 14 estrear-se-iam, ainda nesse ano,
nos palcos de Taiwan e da Austrália.
Agora, resta esperar para saber o que o futuro
lhes reserva, sendo certo que, para o nosso lado, os tempos vindouros hão-de
trazer nova música chinesa. E da boa.
Publicado no jornal Hoje Macau no dia 26 de Outubro de 2012
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