sábado, 8 de agosto de 2015

Pê quê qualquer coisa


Uma breve mensagem e duas fotografias. Foi desta forma que os chineses P.K. 14 anunciaram, esta semana, no “site” Douban, que está finalizada a gravação do quinto álbum da banda, quatro anos depois de “City Weather Sailing”.

De acordo com o anúncio, no novo disco, ainda sem título e com lançamento esperado para o início do próximo ano, os P.K. 14 voltaram a trabalhar com o produtor sueco Henrik Oja (Sonic Youth, David Bowie, Patti Smith, Yo La Tengo, The Strokes, etc.). Também à semelhança com o que aconteceu no anterior trabalho, gravado em Nova Iorque, a banda chinesa rumou, uma vez mais, até aos Estados Unidos, desta feita até Chicago.

Na “Windy City”, os P.K. 14 terão passado a maior parte do tempo no Electrical Audio, o famoso estúdio de Steve Albini, músico e engenheiro de gravação que é apresentado invariavelmente como “lendário” devido à influência com que moldou o som de bandas como Nirvana ou Pixies, entre outras de uma extensa lista que, curiosamente (ou não), confunde-se amiúde com o rol de influências reclamadas pela banda chinesa.

Nos vários textos escritos a propósito dos P.K. 14 ao longo dos últimos anos, saltam imediatamente à vista os nomes – normalmente são introduzidos em jeito de início de conversa – convocados para explicar o universo e situar as referências da música dos chineses. Atravessam diferentes géneros e épocas, sendo que cada escriba tem uma versão inteiramente diferente do que se supõe ter influenciado os autores de “City Weather Sailing”. Assim se explica que surjam nomes como Gang of Four, Bauhaus, Joy Division, The Stooges, The Smiths, Meat Puppets, Talking Heads, Television, New York Dolls, The Fall ou Fugazi. O conjunto destes nomes não engana: pelo menos em espírito, os P.K. 14 situam-se no período “pós-punk”, a genérica designação que serviu de base para outra ainda mais vaga: rock alternativo.

Na China, os P.K. 14 desfrutam do estatuto de “instituição indie”. Nascidos em Nanjing, em 1997 (ano em que puseram cá fora as primeiras músicas), os P.K. 14 (“Public Kingdom for Teens”, mas também são conhecidas outras versões das iniciais do nome da banda, tais como “Pent Kilowatt One More Than Thirteen”, “Pelikan Kraut Seven Times Two” ou “Psycho Killer Two Less Than Sixteen”) cedo se afirmaram pela música e pelas palavras do vocalista/letrista Yang Haisong, frequentemente descrito como “carismático” e que diz procurar inspiração em autores como Woody Guthrie, Bob Dylan ou Phil Ochs, entre outros da chamada música de protesto”.

Em 1999, quando os rockers suecos The (International) Noise Conspiracy passaram pela China em digressão, os P.K. 14 foram escolhidos para fazer a primeira parte do concerto de Xangai. Pouco tempo depois, em 2001, aventuraram-se no lançamento do primeiro álbum oficial de originais, “Shang Lou Jiu Wang Zuo Guai” (“Upstairs, Turn Left”), pela editora Sub Jam. O ano de 200 foi de mudanças para os P.K. 14: depois da estreia editorial, trocam Nanjing por Pequim. Na capital, facilmente conquistam um espaço próprio na constelação das estrelas alternativas do universo musical chinês, na altura a caminho de ser densamente populado.

Os tempos seguintes foram intensos e prolíficos. Em Pequim, os P.K. 14 assinam, em 2002, pela editora Modern Sky, através da qual publicariam, em 2004, o segundo álbum, “Shei Shei Shei he Shei Shei Shei”. No ano seguinte, mais um disco – “White Paper” –, também na Modern Sky. Já com a mudança de editora acertada para a Maybe Mars, os P.K. 14 lançam, em 2008, “City Weather Sailing” (“Chengshi Tianqi De Hangxing”).

O quarto disco trouxe aos chineses atenção e reconhecimento internacionais em doses que, até então, ainda não haviam experimentado – um possível epítome pode ser o facto de a revista norte-americana Time ter considerado os P.K. 14 como uma das cinco bandas asiáticas “a seguir” em 2008.

O ano seguinte trouxe a primeira digressão pelos Estados Unidos, onde lotaram salas em cidades como Nova Iorque e Washington DC. Em casa, a MTV China promovia-os como a “banda do mês de Setembro”. Em 2010, regressam a solo norte-americano para um novo périplo que passou pelo festival South by Soutwest (onde estiveram, uma vez mais, na edição deste ano). No outro lado do mundo, os P.K. 14 estrear-se-iam, ainda nesse ano, nos palcos de Taiwan e da Austrália.

Agora, resta esperar para saber o que o futuro lhes reserva, sendo certo que, para o nosso lado, os tempos vindouros hão-de trazer nova música chinesa. E da boa.

Publicado no jornal Hoje Macau no dia 26 de Outubro de 2012 

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