sábado, 8 de agosto de 2015

T(h)ree Vol. II – A aventura continua


Hoje, dia 30 de Março, o Museu do Oriente, em Lisboa, é o palco da apresentação oficial do segundo volume do projecto T(h)ree, a aventura do produtor David Valentim que volta a juntar músicos portugueses e asiáticos. No primeiro volume, editado em 2010 e, depois, no ano passado, o triângulo foi formado por Portugal, Macau e Hong Kong. Neste segundo disco, as duas regiões chinesas dão lugar a Singapura e às Filipinas.

Pensado como uma trilogia, T(h)ree conta, até agora, com o envolvimento de mais de 150 músicos dos dois lados do globo, sendo que a maioria (para não dizer todos) não se conhecia antes desta iniciativa pioneira.

Mesmo apesar do desconhecimento (trabalharam em conjunto uns com os outros através da Internet), todos os artistas presentes nas duas compilações demonstraram, desde o primeiro momento, uma adesão e entusiasmo assinaláveis, e foram os primeiros a perceber o potencial deste projecto que, dois anos após o lançamento inicial (a primeira edição de um disco T(h)ree remonta a 2010, em Macau), continua a não ter par no mundo inteiro.

Vale a pena recordar algumas das parelhas bem sucedidas que o instinto do produtor David Valentim orquestrou no primeiro disco: os portugueses A Naifa com Winnie Lau, de Hong Kong; os portugueses Hipnótica com os Unixx, de Hong Kong; ou o português Kubik com os Evade, de Macau.

Sem surpresa, o recente disco lançado no passado dia 26 de Março oferece mais umas quantas excelentes e improváveis parcerias, com destaque para os portugueses Pop Dell'a Arte com os filipinos The Dorques, os portugueses Stealing Orchestra e Maze com os singapurenses The Analog Girl, ou o violinista português Carlos Zíngaro com os Life Without Dreams, de Singapura.

Pode dizer-se que a fórmula repete-se, mas neste caso isso não significa que as ideias tenham estagnado, antes pelo contrário. O segundo volume de T(h)ree avança por caminhos diferentes daqueles trilhados no primeiro, uma tendência que deverá ser aprofundada no terceiro disco (já em fase de produção), e para a qual contribui a boa e saudável dose de imponderabilidade própria de um conceito que se baseia em juntar artistas de realidades tão distintas.

Nas palavras de David Valentim, “Singapura e Filipinas são dois lugares antónimos na Ásia”. Temos, assim, por um lado, Singapura, local de estabilidade económica, boas infra-estruturas, harmonia social e baixíssimos níveis de criminalidade. “Lugar de um consumismo extremo onde o verdadeiro desafio diário é criar um equilíbrio entre avassaladora e competitiva vida profissional e a necessária vida pessoal de qualquer ser humano.” Neste aspecto, nota David Valentim, em Singapura, “há uma questão por resolver: qual a verdadeira identidade de uma cidade-estado com tanta multiplicidade cultural? Como criar uma identidade própria a partir de tantas outras sem que nenhuma saia prejudicada?” Diz o produtor que “a música não escapa a essa procura de identidade.” Assim, “há um movimento ‘experimental’ na cena musical local que tenta explorar novos caminhos.”

No que diz respeito às Filipinas, sobretudo Manila, pode dizer-se que se trata de “um paradigma de sociedade caótica, sufocante, pobre, quase tribal em alguns aspectos. Quase tudo funciona mal nas Filipinas, mas o encanto é mesmo esse: perceber como se produz cultura num local onde é tão difícil ter qualidade de vida, mas que ao mesmo tempo oferece uma história tão rica quanto antiga (ao contrário de Singapura)”.

Acrescenta o produtor que, no caso da música feita nas Filipinas, toda esta realidade surge reflectida “na forma como o lado étnico e ‘folk’ está presente no panorama local”, que fica completo com uma vasta diversidade que vai desde o Rock ao Hip-Hop. Esta mistura de géneros modernos e as influências étnicas pode ser comprovada na colaboração entre os portugueses Blasted Mechanism e a banda ‘folk’ Toi, de Manila.

Enquanto produtor, David Valentim diz ter procurado “as bandas que melhor representam a música feita actualmente nos três territórios, e sobretudo aquelas pelas quais nutro um elevado gosto pessoal”.

Além de ter escolhido os músicos e as bandas, David Valentim encarregou-se de que o disco tomasse uma forma coerente, instruindo os artistas das indicações directas do que pretendia. Como o próprio diz, “sou um pouco a pessoa que coloca as peças do puzzle e faz com que tudo bata certo”.

Para que tudo fizesse (ainda mais) sentido, os discos do projecto deveriam ser complementados com um evento anual pensado como um festival. David Valentim já tem o nome e o lugar: T(h)ree Bridges, em Macau. A ideia consiste em juntar no mesmo palco músicos portugueses e asiáticos. Que melhor lugar do que Macau?
Na cabeça de David Valentim, o projecto deste festival tem, pelo menos, 4 anos. Já bateu a várias portas e várias vezes o deixaram sem resposta.
Não é despropositado lembrar que T(h)ree não é subsídio-dependente, porque, como David Valentim diz, “com ou sem apoios, os álbuns são lançados, mesmo que no fim tenha que ser o produtor a pagar os seus custos.”

No entanto, transpor a aventura dos discos para os palcos é uma empresa que carece de apoios e que deveria suscitar o interesse generalizado. Além da música, T(h)ree celebra o famigerado diálogo inter-cultural que, aqui em Macau, serve para tudo e mais alguma coisa. Oxalá não tarde muito até que este projecto único tenha o palco que merece.

Publicado no jornal Hoje Macau no dia 30 de Março de 2012

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