sábado, 8 de agosto de 2015

Uma noite Flau


Quiet nights of quiet stars, quiet chords from my guitar
Floating on the silence that surrounds us
Quiet thoughts ‘n’ quiet dreams, quiet walks by quiet streams
Climbing hills where lovers go to watch the world below together

Quiet Nights of Quiet Stars (Corcovado)
Tom Jobim

Na próxima terça-feira, dia 8, a Live Music Association (Edifício Man Kei, na Avenida do Coronel Mesquita), oferece o palco para uma “Flau Night”. São três os nomes ligados à editora japonesa que, pela primeira vez, actuam em Macau: Cokiyu, Aus e Cuushe.

Desde que surgiu, em 2006, a Flau tem contribuído exemplarmente para o estabelecimento do Japão como ponto central da produção actual de folk-electrónica, uma das ramificações da “indietronica” (mais uma “categoria” do que um “estilo”, de acordo com o excelente All Music Guide, caracterizada pela fusão de sonoridades devedoras ao rock e à pop, com desvios electrónicos), que tem raízes ainda nos anos 1990 (cortesia dos ingleses Stereolab), e que se espalhou no tempo e no espaço.

Devedora dos computadores, a folk-electrónica de que a Flau tem sido embaixadora mereceu o epíteto de “bedroom pop”, um mimo que, na verdade, é certeiro na descrição de uma música de sensibilidade delicodoce e que se adivinha de produção solitária.

Apesar de ter base em Tóquio, a Flau alinha nas suas fileiras projectos de todo o mundo.

O duplo disco “Echod”, lançado no mesmo mês de Dezembro de 2006 em que a Flau foi fundada, além de anunciar a editora, serviu também para apresentar ao público japonês artistas de outras paragens que são inspiração para a Flau. Assim se explica a inclusão de nomes dos Estados Unidos, Europa, Reino Unido e América do Sul, The Boats, Lori Scacco, Montag ou Florencia Ruiz, entre outros.

Limitado a uma edição de 100 cópias, “Echod” foi uma espécie de disco fantasma que desapareceu quase que instantaneamente.

O disco Flau que ostenta o número um de um catálogo que já conta com 21 títulos é, no entanto, “Mirror Flake”, de Cokiyu, um dos nomes que vão estar em Macau.

Depois de artistas como Piana ou Tujiko Noriko, Cokiyu é mais um nome feminino a pontificar na cena japonesa.

Munida de um piano de brincar, toques de guitarra suaves e arranjos electrónicos, Cokiyu Yukiko aventura-se por canções sobre as quais plana com a sua voz delicada. Entre o intimismo de um quarto adolescente e o ambiental de espaços largos e oníricos, a música de Cokiyu, já com dois álbuns, deixa uma impressão duradoura.

As mesmas expressões e ideias assomam para descrever a música de outro dos nomes que estará em Macau na próxima terça-feira, Aus.

Projecto solitário de Yasuhiko Fukuzono, curador da Flau, Aus tem, desde 2004, nove discos editados e dezenas de participações em compilações e remisturas. Já trabalhou com nomes com Ulrich Schnauss ou Joshua Eustis, dos Telefon Tel Aviv.

Na sua música, os “field recordings”, sons ambientais do quotidiano, dão textura à electrónica, muitas vezes minimal e abstracta ao ponto de se tornar hipnótica.

O outro nome que nos visita no próximo dia 8 é Cuushe, mais um nome feminino que, além do género, partilha outras afinidades com Cokiyu.

Cuushe vem de Quioto e na bagagem, certamente, haverá alguns dos temas que farão parte do seu segundo trabalho, “Girl You Know That I Am Here But The Dream”, com edição agendada para Junho de 2012, e que inclui remisturas feitas por nomes como Teen Daze ou Julia Holter.

O disco de estreia de Cuushe, “Red Rocket Telepathy”, de 2009, nas palavras da editora Flau, navegava pelas águas da “dream pop”, mas mais próximo dos “sonhos desfeitos” do que de uns quaisquer “sonhos cor de rosa”. “Nostalgia” é a palavra-chave apresentada pela editora para abordar as paisagens sonoras electrónicas que tanto evocam Cokiyu como Björk.

Que mais virá e que memória ficará é tarefa para conferir uma noite destas, em Macau.

Publicado no jornal Hoje Macau no dia 4 de Maio de 2012 

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