sábado, 8 de agosto de 2015

Uma conversa no Texas com a “indiechina” em fundo


Já lá vão quase dois meses. No dia 16 de Março, trouxe a estas páginas a participação inédita de sete bandas chinesas num dos maiores festivais de música de todo o mundo, o norte-americano South by Southwest (SXSW), realizado anualmente em Austin, no estado do Texas. Além dos concertos de Snapline, Carsick Cars, Re-TROS, Duck Fight Goose, Rustic, Deadly Cradle Death e Nova Heart, o cartaz do festival incluiu uma conferência que tinha por título “Why the Global Music Industry Needs China”.

Eram quatro os oradores convidados para perorar sobre a importância da China para a indústria musical: Tony Ward, antigo executivo de várias editoras multinacionais sedeado em Hong Kong, cidade a partir da qual dirige a empresa de consultadoria e “marketing” musical Man On the Ground, e director do Music Matters, festival  realizado em Singapura; Li Si Si, fundadora da S.T.D. Promotions, uma das maiores empresas de promoção de eventos musicais da China, além de responsável pelo departamento de comunicação da divisão chinesa da empresa Converse; Xi Chen, vocalista da banda Snapline, activa desde 2005 e, actualmente, uma das mais relevantes; e, finalmente, Josh Feola, fundador do excelente sítio electrónico “Pangbianr” (www.pangbianr.com), plataforma através da qual promove e organiza eventos ligados, sobretudo, à música chinesa experimental e “avant-garde”, além de ter sido o autor de diversos textos sobre música chinesa que foram dados à estampa em publicações como The Wire, ou em sítios electrónicos como Altered Zones (www.alteredzones.com) e Tiny Mix Tapes (www.tinymixtapes.com).

A moderação da conversa esteve a cargo de Charles Saliba, um dos fundadores da editora Maybe Mars, de Pequim, considerada a segunda maior editora independente da China; também em parceria com Michael Pettis, o antigo banqueiro de investimento de Wall Street tornado mecenas do rock alternativo chinês, Saliba ajudou a fundar o D-22, o clube de música ao vivo da capital chinesa que foi uma espécie de segunda casa para uma parte significativa das bandas locais.

Graças à Internet, não foi necessário ter estado no Austin Convention Center para seguir a conversa.
O tema que deu título à conferência ocupou pouco mais de cinco minutos do total de cerca de uma hora. A maior parte do tempo, assim se impunha, foi passada a tentar explicar o que é, afinal, a música alternativa chinesa à audiência, bem como a dissecar as abundantes especificidades do Império do Meio.

No meu texto de 16 de Março, considerava que a presença de sete bandas no cartaz do SXSW, um número recorde, era um indicador de que “a música chinesa alternativa e independente vai ocupando o seu lugar na competitiva (e complicada) indústria musical global”, contrapondo, de seguida, que “estamos ainda longe de poder afirmar que o espaço tomado actualmente pela “indiechina” granjeou reconhecimento e popularidade suficientes para que as bandas chinesas sejam já parentes com direito a presença assídua em todas as reuniões de família”.

Nem de propósito, a meio da conferência, um dos oradores lembrou-se de fazer o exercício de perguntar quem, de entre a audiência, conseguia nomear pelo menos uma banda chinesa que já tivesse ouvido; levantaram-se quatro braços.

Neste ponto, unanimidade entre os convidados. A posição consensual foi sintetizada por Josh Feola: “A música chinesa ainda não passou a fazer parte do ‘mainstream’, nem é algo familiar” fora da China. Ainda assim, recordou, têm sido atingidos “vários marcos” no caminho desse objectivo, destacando-se as presenças, nos últimos três anos, no SWSX. O futuro promete ser “excitante”, prevê Feola. Xi Chen acrescenta que o crescimento tem sido “consistente” e que “há mais visibilidade” actualmente.

Ainda assim, menos optimismo quando a questão passa pelo estabelecimento de uma verdadeira indústria a partir do universo das bandas alternativas chinesas. Tony Ward observa, e lamenta, que “é difícil fazer dinheiro da música na China, até nos concertos”, cujos bilhetes são forçosamente baratos para corresponder a um poder de compra de uma maioria que ainda vive à margem do “boom” económico. Ward avisa: o negócio da música “é um investimento e tem que se ter uma visão de longo prazo”, já que “as coisas acontecem devagar”. (continua)

Publicado no jornal Hoje Macau no dia 11 de Maio de 2012

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