Já lá vão quase dois meses. No dia 16 de
Março, trouxe a estas páginas a participação inédita de sete bandas chinesas
num dos maiores festivais de música de todo o mundo, o norte-americano South by
Southwest (SXSW), realizado anualmente em Austin, no estado do Texas. Além dos
concertos de Snapline, Carsick Cars, Re-TROS, Duck Fight Goose, Rustic, Deadly
Cradle Death e Nova Heart, o cartaz do festival incluiu uma conferência que
tinha por título “Why the Global Music Industry Needs China”.
Eram quatro os oradores convidados para
perorar sobre a importância da China para a indústria musical: Tony Ward, antigo
executivo de várias editoras multinacionais sedeado em Hong Kong, cidade a
partir da qual dirige a empresa de consultadoria e “marketing” musical Man On
the Ground, e director do Music Matters, festival realizado em Singapura; Li Si Si, fundadora
da S.T.D. Promotions, uma das maiores empresas de promoção de eventos musicais
da China, além de responsável pelo departamento de comunicação da divisão
chinesa da empresa Converse; Xi Chen, vocalista da banda Snapline, activa desde
2005 e, actualmente, uma das mais relevantes; e, finalmente, Josh Feola,
fundador do excelente sítio electrónico “Pangbianr” (www.pangbianr.com),
plataforma através da qual promove e organiza eventos ligados, sobretudo, à
música chinesa experimental e “avant-garde”, além de ter sido o autor de
diversos textos sobre música chinesa que foram dados à estampa em publicações
como The Wire, ou em sítios electrónicos como Altered Zones
(www.alteredzones.com) e Tiny Mix Tapes (www.tinymixtapes.com).
A moderação da conversa esteve a cargo de Charles
Saliba, um dos fundadores da editora Maybe Mars, de Pequim, considerada a
segunda maior editora independente da China; também em parceria com Michael
Pettis, o antigo banqueiro de investimento de Wall Street tornado mecenas do
rock alternativo chinês, Saliba ajudou a fundar o D-22, o clube de música ao
vivo da capital chinesa que foi uma espécie de segunda casa para uma parte
significativa das bandas locais.
Graças à Internet, não foi necessário ter
estado no Austin Convention Center para seguir a conversa.
O tema que deu título à conferência ocupou
pouco mais de cinco minutos do total de cerca de uma hora. A maior parte do
tempo, assim se impunha, foi passada a tentar explicar o que é, afinal, a
música alternativa chinesa à audiência, bem como a dissecar as abundantes
especificidades do Império do Meio.
No meu texto de 16 de Março, considerava que a
presença de sete bandas no cartaz do SXSW, um número recorde, era um indicador
de que “a música chinesa alternativa e independente vai ocupando o seu lugar na
competitiva (e complicada) indústria musical global”, contrapondo, de seguida,
que “estamos ainda longe de poder afirmar que o espaço tomado actualmente pela
“indiechina” granjeou reconhecimento e popularidade suficientes para que as
bandas chinesas sejam já parentes com direito a presença assídua em todas as
reuniões de família”.
Nem de propósito, a meio da conferência, um
dos oradores lembrou-se de fazer o exercício de perguntar quem, de entre a
audiência, conseguia nomear pelo menos uma banda chinesa que já tivesse ouvido;
levantaram-se quatro braços.
Neste ponto, unanimidade entre os convidados.
A posição consensual foi sintetizada por Josh Feola: “A música chinesa ainda
não passou a fazer parte do ‘mainstream’, nem é algo familiar” fora da China.
Ainda assim, recordou, têm sido atingidos “vários marcos” no caminho desse
objectivo, destacando-se as presenças, nos últimos três anos, no SWSX. O futuro
promete ser “excitante”, prevê Feola. Xi Chen acrescenta que o crescimento tem
sido “consistente” e que “há mais visibilidade” actualmente.
Ainda assim, menos optimismo quando a questão
passa pelo estabelecimento de uma verdadeira indústria a partir do universo das
bandas alternativas chinesas. Tony Ward observa, e lamenta, que “é difícil
fazer dinheiro da música na China, até nos concertos”, cujos bilhetes são
forçosamente baratos para corresponder a um poder de compra de uma maioria que
ainda vive à margem do “boom” económico. Ward avisa: o negócio da música “é um
investimento e tem que se ter uma visão de longo prazo”, já que “as coisas
acontecem devagar”. (continua)
Publicado no jornal Hoje Macau no dia 11 de Maio de 2012
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